sexta-feira, 23 de março de 2012

Bactérias que vivem em nosso corpo podem ter dado uma ajuda na evolução

Por Carrie Arnold

O corpo humano abriga pelo menos dez vezes mais células de bactérias que células humanas. Conhecidas coletivamente como microbioma, essa comunidade pode desempenhar um papel importante na regulação do risco de obesidade, asma e alergias. Agora, alguns pesquisadores se perguntam se o microbioma pode ter participado em um processo ainda mais crucial: a seleção de parceiros e, em última análise, a evolução.

A melhor evidência de que o microbioma pode desempenhar esse papel crítico vem de estudos de insetos. Um experimento de 2010 liderado por Eugene Rosenberg, da Universidade de Tel Aviv, descobriu que criar a mosca-das-frutas Drosophila pseudoobscura com dietas diferentes alterou a seleção de parceiros: as moscas se acasalavam com outras da mesma dieta.

Uma dose de antibióticos aboliu essas preferências – as moscas voltaram a se acasalar sem levar em conta a dieta –, sugerindo que a alteração dos microrganismos intestinais provocada pela dieta, e não só a dieta, levou à mudança.

Para determinar se os microrganismos intestinais poderiam afetar a longevidade de um organismo e sua capacidade de reproduzir, Seth Bordenstein, geneticista da Vanderbilt University, e seus colegas administraram o antibiótico rifampicina a cupins Zootermopsis angusticollis e Reticulitermes flavipes. O estudo, publicado em julho de 2011 na Applied and Environmental Microbiology, descobriu que os cupins tratados com antibiótico mostraram uma diversidade reduzida em suas bactérias intestinais e produziram um número muito menor de ovos. Bordenstein argumenta que a redução de certos microrganismos benéficos, alguns dos quais ajudam na digestão e na absorção de nutrientes, deixou os cupins desnutridos, menos capazes de produzir ovos. Estes estudos fazem parte de um crescente consenso entre biólogos evolutivos que não se pode mais separar os genes de um organismo dos de suas bactérias simbióticas. Todos fazem parte de um único “hologenoma”.

Somos um: biólogos dizem que micróbios intestinais comuns
como os Bacteroides fragilis podem ser tão importantes quanto nossos genes


“Houve um longo histórico de separar a microbiologia da botânica e zoologia, mas todos os animais e plantas têm milhões ou bilhões de microrganismos associados”, explica Rosenberg. “Você deve observar o hologenoma para entender um animal ou planta.” Em outras palavras, as forças da seleção natural pressionam uma planta ou animal e sua gama completa de microrganismos. Apoiando essa ideia, Bordenstein mostrou que quanto menor a distância evolutiva entre certas espécies de vespas, maiores as semelhanças em sua microflora.

Pesquisadores acreditam que o microbioma também é essencial para a evolução humana. “Dada a importância do microbioma para as adaptações humanas como a digestão, o cheiro e o sistema imunológico, parece muito provável que esse sistema tenha tido efeito sobre a especiação”, avalia Bordenstein. “Sem dúvida, a microbiota é tão importante quanto os genes.”