quinta-feira, 10 de março de 2011

Adolescentes utilizam bullying como escada para ascensão social

Um estudo realizado por pesquisadores da Universidade da Califórnia apontou que adolescentes estão utilizando práticas violentas, como o bullying, para se tornarem mais populares e galgar posições hierárquicas em seus grupos sociais ou, na expressão em inglês, pecking order.

Os resultados demonstram que, em geral, praticar algum tipo de agressão “ajuda” estes alunos a alcançar e manter um elevado status social.
“A agressão geralmente requer algum grau de apoio social, poder ou influência, principalmente porque os alunos veem uns aos outros todos os dias na escola e qualquer ato de agressão traz risco de retaliação”, explica Robert Faris, coautor do estudo que acompanhou mais de 3.700 adolescentes do equivalente ao ensino médio entre 2004 e 2005 .

Segundo a socióloga Diane Felmlee, o que motivou a pesquisa foi o fato de que geralmente os estudos sobre agressão relacionam problemas individuais, como dificuldades de relacionamento, distúrbios psicológicos ou um ambiente familiar difícil, como o ponto de partida do comportamento agressivo.

Adolescentes utilizam bullying como escada para ascensão social
Os autores exploraram o tema de um ângulo diferente, olhando para o impulso do comportamento agressivo de uma perspectiva de grupo social. Sua teoria era a de que o status de pares ou de popularidade, medido pela proximidade de uma pessoa com o núcleo do grupo social (uma maior proximidade com a pecking order, ou hierarquia dominante) aumenta a capacidade para a agressão e que os jovens usam a violência como uma forma de competir ou manter seu status social.

Felmlee e Faris definem a agressão como um comportamento destinado a prejudicar ou causar dor ao outro, tanto físico como empurrões, socos e chutes; verbal, como chamar nomes ou fazer ameaças; ou indiretamente, espalhando boatos ou levando uma pessoa ao isolamento social.

Outros resultados mostram que com o tempo os adolescentes na parte inferior dessa pirâmide social e os que estão no topo da hierarquia do grupo – que parecem ter mais poder e capacidade para a agressão – geralmente apresentam um comportamento bem menos agressivo. Faris sugere que, nestes grupos, mostrar agressão pode ser um sinal de insegurança ou fraqueza e, em vez de reforçar sua posição, a agressividade pode resultar em perdas dentro dos grupos sociais. “Neste nível, o adolescente se beneficia mais tendo um comportamento gentil e agradável”.

Entre os adolescentes que buscam mais popularidade, a média de agressividade é 28% maior com relação aos que estão próximos da base da hierarquia, e 40% maior do que os que estão no topo. A agressividade é influenciada não tanto por diferenças de gênero dos indivíduos, mas “por relações com o outro gênero e os padrões de segregação sexual na escola”. Quando há muita interação entre meninos e meninas, há menos agressão.

Mas estes fatores também parecem afetar o status: nas escolas onde não havia muita interação entre os gêneros, as amizades entre homens e mulheres criam diferenças de status que aumentam as consequências de estar no topo da hierarquia.
O estudo foi feito em escolas de pequenas cidades e distritos rurais nos EUA, mas, mesmo assim, os autores acreditam que os padrões devem ser semelhantes aos encontrados nos grandes centros urbanos. De acordo com a pesquisa, a agressão é comum nas escolas dos EUA, onde cerca de 30% ou 5,7 milhões de jovens americanos são intimidados ou sofrem algum tipo de agressão pró-ativa todos os anos, o que leva 160 mil estudantes a deixarem de ir à escola todos os dias. No Brasil são poucos os dados sobre o problema.
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Fonte: American Sociological Review em 21/02/2011.