domingo, 6 de fevereiro de 2011

População obesa mundial dobrou em três décadas



De DÉBORA MISMETTI, EDITORA-ASSISTENTE DE SAÚDE.

Com os Estados Unidos liderando a tendência, a obesidade no mundo dobrou entre 1980 e 2008, de acordo com uma pesquisa global publicada hoje no "Lancet".

Há 31 anos, 4,8% dos homens e 7,9% das mulheres tinham índice de massa corporal acima de 30, o que configura obesidade.

Três anos atrás, 9,8% dos homens e 13,8% das mulheres já tinham passado dessa marca. Assim, mais de um adulto, em cada grupo de dez, está obeso.

O estudo, conduzido por pesquisadores do Imperial College London e de Harvard, com apoio da Organização Mundial da Saúde (OMS) e da Fundação Bill e Melinda Gates, é dividido em três partes: obesidade, pressão arterial e colesterol.

Foram pesquisados dados de 199 países e territórios, desde 1980 até 2008.

O Brasil acompanhou a tendência de alta da proporção de gordos.

A China também é destaque, com aumento do índice de massa principalmente entre os homens.

MENOS SONO

Apesar de os hábitos alimentares terem muito a ver com isso, os processos de urbanização e automatização têm culpa maior, segundo o endocrinologista Bruno Geloneze, coordenador do laboratório de metabolismo e diabetes da Unicamp.

"O gasto energético foi muito reduzido. Não precisa ir muito longe. Sua bisavó, quando tomava suco, espremia a laranja. Hoje, é só abrir a geladeira."

Outra questão importante é a privação de sono. De acordo com Geloneze, de 50 anos para cá, o mundo está dormindo duas horas a menos por noite, o que tem ligação direta com o peso.

"Há uma desregulação do gasto energético, da produção de hormônios da saciedade e uma ativação da glândula suprarrenal, que faz adrenalina e cortisol. Tudo isso facilita o ganho de peso", diz o endocrinologista.

Os Estados Unidos, país que liderou a alta da obesidade, vem tentando atacar o problema com incentivos à alimentação saudável e à prática de exercícios.

De acordo com Geloneze, essas medidas são mal orientadas, porque dão peso muito grande para alimentação e esportes. "Não pode algo pró-esporte. As atividades físicas não programadas, como deslocamentos, pesam mais. O importante é que as cidades permitam que a pessoa ande de bicicleta, a pé."

O consumo de alimentos processados e a ocidentalização da dieta dos orientais contribuem para o fenômeno. O mundo está abandonando a comida in natura em favor da processada, com densidade de calorias muito maior.

A dificuldade de combater o ganho de peso é maior do que a enfrentada na redução de hipertensão e colesterol, que podem ser mais facilmente controlados com medicamentos. "A obesidade envolve consumo alimentar, muito ligado à emoção e estilo de vida. Não há pílula mágica para tratar isso."