quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Profissionais se unem contra a evasão escolar.

Aliados visitam escolas e, com sua experiência e oficinas, incentivam alunos a continuarem a estudar.
Alunos da Escola Estadual Tomás Alves, no distrito de Sousas, durante atividade do projeto As Vantagens de Permanecer na Escola, em abril (Foto: Divulgação )

Os dados não são animadores: dos cerca de 10 milhões de brasileiros entre 15 e 17 anos, só 8 milhões estão na escola. Desses, apenas a metade está na série esperada para sua faixa etária e só 1,8 milhão vão concluir o último ciclo da educação básica. Diante dessas estatísticas, a Câmara Americana de Comércio de Campinas (Amcham-Campinas) e a organização não governamental (ONG) de abrangência mundial Junior Achievement, criaram o projeto As Vantagens de Permanecer na Escola, que tem o objetivo de visitar unidades públicas e, por meio de conversas entre executivos e alunos e a aplicação de dinâmicas, combater a evasão escolar e incentivar o envolvimento nos estudos.

A iniciativa também integra o Compromisso Campinas pela Educação (CCE), iniciativa que reúne primeiro, segundo e terceiro setores em busca de melhorias da educação pública na cidade. “Diante dos números insatisfatórios de rendimento escolar e também da constatação de que falta mão de obra qualificada no mercado, decidimos montar um projeto relacionado à educação que pudesse transmitir propostas de empreendedorismo e abrir os horizontes profissionais dos estudantes, mostrando que estudar é o primeiro passo para a realização dos desejos e sonhos que cada um tem”, explica o consultor Juliano Graff, conselheiro da Amcham-Campinas e presidente do conselho da Junior Achievement para o Interior de São Paulo.

Em março deste ano, o projeto começou a ser desenvolvido e cerca de 2 mil alunos já passaram pela experiência. No primeiro passo, é feito o recrutamento dos voluntários entre os funcionários de grandes empresas de Campinas e região, geralmente multinacionais. Eles passam por um treinamento oferecido pela Junior e, depois, dedicam cinco horas de um dia para ir até uma escola, conversar com os estudantes e conduzir dinâmicas. O projeto é voltado para a fase final da educação básica, justamente o período em que mais há evasão escolar, principalmente, nas classes sociais mais baixas, por causa da necessidade de muitos alunos de trabalhar para colaborar com o sustento da família. Por isso, são atendidos estudantes que estejam cursando a partir do 8º ano do Ensino Fundamental (antiga 7ª série).

O voluntário Renan Lorençato Paglioto e a diretora Marisa Helena Manzin: estímulo que vem de fora(Foto: Dominique Torquato / AAN)

Durante a visita às escolas, os executivos contam aos estudantes como a permanência nos estudos foi importante para que eles alcançassem o sucesso profissional. Na segunda parte das atividades, os estudantes participam de jogos. Um deles é semelhante a um tabuleiro e cada jogador precisa fazer opções, semelhantes às que eles vivenciam no dia a dia: escolher entre continuar estudando e deixar a escola por causa de um trabalho, por exemplo. O jogo mostra que cada decisão leva a consequências e que, futuramente, poderá haver prejuízos.

“Uma das atividades que desenvolvemos com os alunos diz respeito também ao desejo que muitos têm de sair de casa para morar sozinhos. Damos a eles informações para que façam o orçamento, os custos que teriam e o quanto seria um salário compatível ao que desejam para a vida”, diz o voluntário do programa Renan Lorençato Paglioto, funcionário da área comercial da Amcham. Os alunos também recebem uma cartilha com informações básicas sobre a importância dos estudos e o planejamento para o futuro profissional.

Incentivo
A participação de Paglioto leva, além do conteúdo tradicional do programa, novos estímulos aos estudantes. Ele tem 22 anos e o fato de ser jovem é mais um incentivo. “Os alunos acabam se espelhando na nossa história de vida. Como tenho seis ou sete anos mais do que a maioria deles, eles percebem que um bom emprego, uma posição profissional bacana e um salário compatível podem ser possíveis em pouco espaço de tempo, desde que estudem. Eu, assim como os demais voluntários, procuro enfatizar sempre o quanto a nossa dedicação aos estudos foi importante e que também foi necessário abrir mão de algumas coisas por causa dos meus objetivos profissionais”, afirma o voluntário.

Como forma de facilitar a identificação, a Junior estimula, principalmente, a participação de profissionais que atuem próximos às escolas que serão atendidas pelo projeto. “É natural que um estudante que more num bairro de Sumaré sinta o desejo de trabalhar numa empresa como a 3M. Por isso, fazemos questão de, sempre que possível, levar profissionais das empresas referência em cada área para contar suas experiências”, explica Graff. Além do trabalho de incentivar funcionários a participar do projeto, as empresas que desejam podem também colaborar financeiramente, já que cada aluno atendido tem um custo de R$ 22,50, relativos à produção de material e gastos operacionais, como como transporte. Na região, já foram atendidas escolas de Vinhedo, Valinhos, Sumaré e Campinas.

Retorno
Os educadores avaliam o projeto como um aliado no convencimento dos adolescentes. “Quando vem alguém de fora contar a sua experiência, os alunos tendem a prestar mais atenção e a considerar o que ouvem. É diferente do que se, simplesmente, o professor, figura já conhecida de todos, dissesse algo. Além disso, é uma forma de os alunos verem aplicação do que estudam à vida profissional. Eles recebem um exemplo prático daquilo sobre o que falamos todos os dias”, afirma a diretora Marisa Helena Manzin, da Escola Estadual Tomás Alves, do distrito de Sousas, que recebeu o projeto em abril.

Para a coordenadora pedagógica da escola, Valéria Regina Camargo Bueno, alguns detalhes também chamam a atenção dos estudantes. “Ao receberem as visitas dos profissionais, os alunos se sentem muito valorizados. Além disso, os voluntários do projeto vêm vestidos como se estivessem trabalhando, mantendo a estética. Ver um jovem de terno e gravata ou uma moça com sapato social da moda é um estímulo muito grande aos nossos alunos, porque é assim que eles sonham em ser no futuro”, avalia.

O estudante Maycon de Oliveira Pedro, de 16 anos, está no 1º ano do Ensino Médio e participou do projeto em sua escola, em Vinhedo. “Estudar é chato, todo mundo sabe disso. Mas, sem estudo, a gente não vai ser nada na vida. Eu já tinha pensado em sair da escola, mas depois de conhecer o pessoal da Junior, comecei a mudar de ideia. Vai ser melhor para mim.”

Fonte: Fabiano Ormaneze - Agência Anhangüera de Notícias em 11/08/2010.