quinta-feira, 4 de junho de 2009

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Novo levantamento mostra que ritmo do desmatamento não diminuiu, apesar de lei de proteção. Trecho de mata atlântica em Paraty (RJ).
Esse é um dos biomas mais ameaçados do mundo e hoje ocupa apenas 7,9% do seu território original, segundo levantamento realizado pela SOS Mata Atlântica e pelo Inpe (foto: Glauco Umbelino / Flickr).

A aprovação em 2006 da Lei da Mata Atlântica, que regulamenta o uso e proteção da floresta, foi incapaz de proteger o mais devastado bioma brasileiro. Estatísticas divulgadas ontem mostram que, entre 2005 e 2008, foram derrubados 102.938 hectares (ha) da mata — área pouco menor que a do município do Rio de Janeiro. A média de desmatamento permanece próxima à dos cinco anos anteriores (34.965 ha/ano). O ritmo da devastação se mantém em dez dos 17 estados brasileiros onde a floresta ocorre — Minas Gerais lidera o ranking do desmatamento. Os dados são do Atlas dos remanescentes florestais da mata atlântica, divulgado pela fundação SOS Mata Atlântica em parceria com o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Em relação ao levantamento anterior — relativo ao período de 2000 a 2005 —, a maior mudança foi motivada pela diminuição do território de mata atlântica reconhecido legalmente. “Essa mudança excluiu principalmente os limites da mata com o cerrado”, explica Marcia Hirota, coordenadora do Atlas pela fundação. A nova edição do levantamento mostra que, da área original da mata atlântica, apenas 7,91% da cobertura nativa ainda estão preservados, se considerados apenas fragmentos com mais de 100 hectares. Mas a área de mata nativa pula para 11,41% se forem levados em conta fragmentos menores, com entre 3 e 100 ha. Esse valor é muito próximo do índice ao qual chegara um estudo da Universidade de São Paulo (USP) divulgado em abril deste ano. No entanto, os números do Atlas são bastante diferentes dos dados oficiais anunciados pelo governo, segundo os quais haveria 27% de mata atlântica nativa preservada. Segundo o coordenador técnico do estudo pelo Inpe, Flávio Ponzoni, essas discrepâncias se devem a diferenças metodológicas. “Não há como comparar [esses números]”, afirma o engenheiro florestal. Campeões do desmatamento

Minas Gerais lidera o ranking do desmatamento da mata atlântica: o estado desmatou 32.728 ha do bioma nos últimos anos (rerpodução / Atlas de Remanescentes Florestais da Mata Atlântica).
Segundo o Atlas, Minas Gerais e Santa Catarina foram os estados que mais desmataram. A situação em Minas — que já era líder no levantamento anterior — se deve principalmente à exploração de carvão, atuação das siderurgias no estado, além da agropecuária e da especulação imobiliária. Já o destaque negativo para Santa Catarina é atribuído à revogação da Lei da Mata Atlântica e à implementação de um novo código ambiental estadual. Na apresentação dos novos dados à imprensa, os pesquisadores da SOS Mata Atlântica afirmaram que uma maior fiscalização e controle da floresta por parte do governo diminuiria o ritmo contínuo de devastação. No entanto, como grande parte do que resta do bioma está em propriedades particulares, os esforços também devem se voltar para essas áreas. “Tudo depende do incentivo que esses particulares têm para manter a cobertura florestal ou ampliá-la”, pondera Flávio Ponzoni. “Têm tramitado no congresso algumas leis que procuram incentivar a manutenção da cobertura florestal mediante a isenção de impostos, mas não sei qual é a eficácia delas nesse sentido.” A última edição do Atlas traz o mapeamento de 93% do território ocupado pela mata atlântica — sete estados não foram incluídos no levantamento. “Os trabalhos nesses outros estados estão em curso, inclusive no Piauí, onde o mapeamento jamais foi realizado”, afirma Hirota.
Ciência Hoje On-line 27/05/2009